sábado, 27 de outubro de 2012

África parte I - Marrakesh مراكش , itensa, colorida e misturada

Oi meu povo!
Antes mesmo de sair do Brasil já sonhava com essa viagem. Muitos dias programando, esperando, sonhando, porque apesar de estar na Europa, sempre tive sonho de ir à África, ver como é, sentir como são de fato as pessoas que tanto influenciaram em nossa cultura brasileira. Muito antes, sempre li sobre como eram os costumes no Marrocos, muita coisa diferente daqui, mas não imaginava que era tanto, tão diferente, e ao mesmo tempo tão normal para eles. Saí de casa para uma viagem, não sabendo que voltaria mudado, que aprenderia em 5 dias o que talvez não aprendi em anos. Querendo ou não, saimos de casa com as ideias de: "tome cuidado, é outra cultura, é perigoso, não coma isso, eles são mulçumanos, outros costumes(...)". Porém, é só você enxergar tudo isso com outros olhos. O que é para a mídia bizarro, pode ser para você admiração e ensinamento.
Saímos na madrugada para pegar o ônibus para a cidade de Sevilla, Espanha. De lá saíria nosso vôo direto para a cidade de Marrakesh, Marrocos. O primeiro momento da viagem já começou tenso, porque o ônibus era 01:45h, e quando fomos entrar, o motorista falou que não poderia nos levar porque a data da nossa passagem estava errada, ele considerava a madrugada como sendo do dia anterior ainda, vê se pode? Viajávamos dia 22, 01:45h, ele dizia que nossa passagem teria que ser dia 21. PESADO! Depois de muito brigar com o português, ele achando que estava certo, eu dizendo que tínhamos um vôo, que tinhamos que ir naquele ônibus, ele foi, contou os lugares e entramoa no sufoco. Éramos nove pessoas e cabiam exatamente nove pessoas no buzão. Sorte, coincidência, ou ela era um cabeção? Nesse meio tempo, um cara que estav pedindo esmola roubou uma mala, ficamos todos tensos, o motorista ignorou o fato. Fomos de Faro até Sevilha com a impressão de que a mala poderia ser de um de nós. Não foi. Hahahaha! Vamos para o Marrocos! O vídeo abaixo expressa o que ouvimos quase todos os dias, incontáveis vezes:


Ficamos no aeroporto de Sevilha a manhã toda e lá fomos nós! Muita ansiedade de mudar de continente de uma hora para outra, e com uma mudança tão brusca, em termos de religião, cultura e sociedade. Lá do alto vimos o Estreito de Gibraltar, local de tantas guerras e tantas brigas entre os dois continentes. Pequeno e imenso ao mesmo tempo, azul, ele separa Europa e África perfeitamente. Um visual maravilhoso para nunca mais ser esquecido.


Já no aeroporto levamos aquele choque com tudo que estamos vendo. Poxa, estou num país mulçumano! A fila da imigração já revela rostos e marcar autênticas daquele povo tão singular, forte e robusto. Depois de passaporte entregue e tudo certo, rs, hora de trocar euro pela famosa moeda que nos tirou o sono durante a semana, o famoso "dirham". Um euro é equivalente a mais ou menos 11 dirham, ou seja, você euro e de uma hora pra outra você está milionário, hahahaha! Engano, porque tudo é caro, tudo é assim, multiplicado também por 10. Saímos do aeroporto e negociamos uma van, lá só os homens que negociam, e conseguimos uma, extremamente clandestina, que o cara fechou todas as cortinas, por 30 drh. Achamos super engraçado, mas lá fomos nós para o centro da cidade!

 Aeroporto de Marrakesh.
A van do árabe estranho...

As primerias impressões
A cidade é uma loucura. Tudo se mistura numa normalidade tão grande, que de uma hora para outra você já faz parte dessa mistura, mesmo sem notar. Porque os turistas são peça certa na paisagem da medina. O trânsito é um caos por completo. Burros, bodes, carros, bicicletas, carneiros, vans, tuk-tuks, motos que passam a 200 km por hora quase te atropelando em todas as vezes, tudo isso e mais um pouco. Todas as mulheres andam de burcas, mas existem vários tipos destas. Algumas se cobrem por completo, até mesmo sem mostrar os olhos e outras mostram só olhos, ou só rosto, mas sempre encobertas. Não mostram sua feminilidade em momento algum, só têm as roupas compridas para se expressarem, por isso cheguei a ver até uma burca da Gucci, cravejada de strass nas costas. Pode acreditar! Hahaha!





Na grande Praça Djemma El-Fná você encontra de tudo, se bobiar eles devem vender até gente no meio daquela coisa de doido. É muita informação acontecendo ao mesmo tempo. Enquanto você tenta caminhar sem ser atropelado por algum meio de transporte ou por algum árabe você encontra normalmente no chão: lixo, cobras, macacos, homens fazendo mágica, grupos dançando, cantando, se expressando culturalmente das diversas formas possíveis. Por essas e outras essa região é considerada Patrimônio Mundial da Unesco. Grandes barracas vendem sucos por 4 drh, e é uma delícia, são feitos na hora, super saborosos. Além de tomar suco, comi o famoso Tagini, que é carne de cordeiro com legumes e um tempero SUPER forte, que é salgado e doce ao mesmo tempo. Além disso experimentei lesma, que não é de tudo ruim, mas é quente e borrachenta. Você tem que tomar cuidado com o que você fotografa, porque eles vivem do turismo, e de forma alguma eles não podem deixar de arrancar algum dinheiro do visitante. Se levantar a câmera perto de uma mágica, cobra, ou macaco, você já pode pegar sua moeda no bolso, é normal! Aconteceu comigo e não foi muito legal a cara do marroquino pra mim. Huhsuahsuahsa! Ê, ê.


 

 O diferente prato típico, Tagini de cordeiro.



Comendo o kebab, que é tipo uma panqueca de carnes.

O hostel que ficamos foi um evento a parte, rs. Vários amigos nos indicaram este e realmente foi uma ótima indicação. Ele está localizado bem perto desta praça e perto de tudo também. O nome do albergue é
Amour d' Auberge, e realmente indico. O dono é super simpático e quando falamos que éramos brasileiros, ele fez a festa, ficou super alegre. Porém, o sheik (chamamos todos de sheik por lá), foi com a minha cara e começou a fazer umas piadas, me chamar pelo meu nome toda a hora, e de repente ele virou do nada e perguntou se eu não queria me casar com a irmã dele, a Riba. HUASHUASHUASHAUSHAU! Pesadíssimo, pelo amor de Deus. Fui arrumar casamento lá no Marrocos, e o pior que a menina ficava me olhando, coisa engraçada demais. Toda hora que ele me via, falava: "Thomaaaaaaaas". Eu respondia: "Inshalá", mas só depois descobri que essa expressão lá pode ser usada tanto para "se Deus quiser", como para "Deus me livre". Aí eu já não sei o que o doido tava entendendo. Mas de uma forma geral, falamos sobre futebol, eles ficaram de cara com as mulheres do funk do Brasil, me mostrou a "Mulher Melancia" de lá, huahusahushua! Uma mulher muito engraçada, toda coberta, que não chega aos pés das mulheres brasileiras.




 Brother-in-law, cunhado no Brasil, foi como eu tive que me despedir dele, huashuashusahu!

Companhias perfeitas para uma viagem tão marcante, valeu galera! Muito obrigado!

Tudo se vende, tudo de negocia
Tudo mesmo. Você pode pagar preços inacreditavelmente caros, mas baratos também. Você só tem que negociar, e muito, muito mesmo. Seja comida, passeio, roupa, sapato, bolsa de couro, lenço, prata, óleo de argan, tudo! Eles quase nunca falam o preço de uma coisa, perguntam logo a frase que quase definiu nossa vaigem: "how much you pay?". Quanto você paga. E daí começa e não pára. Chegamos a comprar pashiminas (lenço típico do Marrocos que custa muito caro no Brasil) com preços muito baratos, mas são lenços incríveis. Só não posto o preço porque serão presentes de algumas raparigas, hahahaha!
Você tem vontade de comprar tudo, são muitas cores de diversas peças, cada lenço e pano mais bonito que o outro. As antiguidades são de te deixar doido, lâmpadas do Alladin de diversas formas e formatos, bolsas e carterias de couro, luminárias típicas, bijouterias, roupas marroquinas. Muito couro a preços infinitamente  mais baratos. Sapatos coloridos de se usar com as burcas, capas, especiarias, óleos, condimentos típicos, etc. Tudo isso em suas virtines, espalhados nas calçadas, nas ruas, criam de certa forma um atrativo turístico que escapa aos seus olhos. Você se perde nas ruas e ladeiras, que te levam pelo olhar, pela curiosidade, pelo novo, pela diferente, é demais.





 




Festa do Cordeiro e curtumes
É aqui o principal ponto entre com a cultura ocidental. Logo quando chegamos, ficamos sabendo que no último dia em que estaríamos na cidade tudo iria para para a Festa do Cordeiro, que é uma das três festas mais famosas da cultura mulçumana. Na terça-feira passamos por uma feira de cordeiros e todos estavam comprando vários animais. O que acontece é que o cordeiro/carneiro é considerado como portador de sorte. É habitual que se mate um destes quando acontece um casamento, batizado ou gravidez. Mata-se um destes para dar sorte. No caso desse acontecimento ser em um lugar ou requerer a sorte para um local é normal que se mate o animal e espalhe o sangue deste por ali. O pior é que só fiquei sabendo disso quando voltei e que fui pesquisar sobre tudo aquilo que vivi lá. Saímos na rua para visitar os curtumes da cidade logo no di santo. A rua estava uma correria, porque todos estavam indo pra casa matar seus cordeiros, celebrar com suas famílias. Conhecemos um homem que nos disse que a festa é super fechada e que nenhuma pessoa de fora pode entrar. Escutávamos vários gritos dos bichos sendo mortos, churrasqueiras gigantes sendo montadas na frente das casas das pessoas, e sangue. Muito sangue espalhado pelas ruas como se fosse água. Uma cena super chocante, um senhor varrendo aquele rio de sangue na sua rua. E antes de assarem a carne, eles traziam as cabeças em baldes e colocavam no fogo...Pesado demais para nós, mas para eles um momento de alegria, celebração e festa. Demais né?





Pois então, fomos visitar os curtumes do Marrocos. Aqueles super famosos com a novela "O Clone" da Globo. Na novela eles eram lindos, coloridíssimos, divertidos, legais, etc. Tudo isso é uma grande mentira. Todos nós ficamos horrorizados com aquilo que estávamos vendo. Chegamos e fomos recebidos por um senhor que não mencionou em momento algum que cobraria. Nos levou em três curtumes, um pior que o outro. É o lugar mais desorganizado e insalubre que já fui na minha vida. O cheiro é terrível, por causa das peles, sangue e carne que você vai pisando na sua visita. As carcaças ficam jogadas em um lado, amontoadas, cachorros e gatos se alimentam daquilo tudo, comem até fezes, seu habitat é ali, no meio da sujeira, no meio do caos absoluto. E o pior é que mais de 150 pessoas vivem daquilo ali, sem contar as famílias que dividem terreno com os curtumes, fazendo daquele espaço quintal de suas casas, onde as crianças vivem normalmente. Traduzir com palavras é muito difícil, é uma tarefa árdua, mas sem sombra de dúvidas é surreal pensar que dali saem couros lindos, que viram peças caríssimas, que vão para o mundo todo.
 A hora que você ri para a foto, mas está morrendo, hahaha!

 Lã, peles, carcaças de animais


No meio disso tudo, fizemos uma viagem dentro dessa viagem. Fomos num micro-ônibus adentrando o Marrocos até o deserto do Saara, conhecendo várias cidades e vilarejos. Chegamos quase na divisa com a Argélia, onde acampamos e rodamos pelas dunas do deserto. Mas isso eu conto na Parte II dessa viagem, que de tão grande e com tanta informação, resolvi dividir em duas partes. Estou aqui escrevendo, relembrando todos os momentos há horas, e acho que é por isso que gosto tanto desse blog, desse espaço aqui, me faz pensar com calma tudo que vivi e organizar minhas ideias e expressões.

Voltar a Europa não foi fácil
No dia da nossa volta nosso voo era 12:30, combinamos uma van para nos levar ao aeroporto e até aí tudo certo! Já na praça chegou um homem acelerando a van loucamente, ok. Nos separamos em 11 nessa van e outros 3 em outra que estava indo logo atrás (eu estava nessa, com a Yandra). Quando estamos cruzando a praça, a van da frente pára bruscamente e de um minuto pro outro vira um caos. Nossa van atropelou um macaco. Tadinho. Foi pesado demais ver aquele bicho, tão escravizado, tão usado, ser morto ali, em plena luz do dia, e ainda, vítima do próprio caos que vivia. Seu dono ficou atordoado e assntou na frente da van de cabeça baixa, com ar de querendo justiça. Os outros macacos ficaram alucinados, pareciam sentir...olhavam o bicho morto e pulavam. Seus donos esconderam o rosto dos outros macacos para não ver (parece melancólico demais, mas foi assim, ficamos todos tristes). Aquilo nos marcou demais, aquela cena logo na nossa despedida dessa Terra tão plural. É a lei da selva sendo vivida ali, no cotidiano.
Depois de mais um voo tenso da Ryanair, chegamos em Sevilha, tava tendo uma cena de Chegadas e Partidas ali bem na minha frente, hahaha. Esperamos algumas horas até voltar de ônibus para Faro. Quando estávamos na estrada, o bus parou numa blitz bem grande. Estávamos todos dormindo, os policiais do serviço de fronteiras entraram e pediram passaporte de todo mundo, encheram de perguntas...Deviam estar procurando alguém. Um cara do nosso lado perguntou: "Vocês não trouxeram nada do Marrocos não né?" Huhsuahsuhausa, demos palaaa! Trouxeram cães farejadores e abriram o porta-malas, começaram a escolher pessoas pra abrir as malas, pesado! Era a divisa de Portugal com a Espanha e eles deviam estar em alguma operação pesada. Ficamos mais de 40 minutos tensos, mas depois fluiu, e chegamos com os fusos todos atrapalhados!



Já apaixonado por essa viagem que me mudou, que me fez abrir minha cabeça para novos pensamentos, ainda tive outros momentos ainda mais marcantes no interior do Marrocos. Depois conto mais! Espero que gostem desse post, no qual tanto esperei escrever.

Abraços, mórsas!

2 comentários:

  1. Porra Thomaz! Agora você agrediu mesmo! Muito legal essa sua viagem! Tenho a maior curiosidade em conhecer o norte da África. Espero que você poste a segunda parte logo. Abraços

    Demetrius

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